24 março 2006

EVACUANDO

O lugar é escuro, tranqüilo
Entro sem fazer barulho
As luzes são acesas
...abaixo e sento

A cadeira é estranha, fria
Há uma caverna, um córrego, corre
uma sensação de dor, arrepio
...a porta foi aberta

De súbito, tudo se gaseifica
Há odor!
Corpos estranhos, decúbito,
Navegam

Começa a chover
Quebra o silêncio
A chuva ácida destrói os corpos
Afundam

Tento me limpar
Foi um crime
Sou um suspeito

...levanto assustado
Tão sublime
Tudo está feito

(Outubro/1995)



ROTINA

Acordado, tudo começa...

Desgosto, tristeza,
Tédio, rancor,
Lágrimas, dor,
Gritos, fraqueza.
A manhã se passou!

Insônia, solidão,
Desprezo, apatia,
Vazio, nostalgia,
Desespero, agressão.
Assim a tarde se vai!

Depressiva/mente, a noite é bem vinda.
Um “branco” total, “Maria na rua”,
A minha “heroína” na parede nua.
E eu acordado, sem sono ainda.

(14/03/1995)

CANSADO


Não terás da flor o perfume, beleza.
Nem da noite o sereno, estrelas, luar.
O crepúsculo cairá em sono profundo.
Quando velho velâmen da face tirar.

Não verás o romântico, o sóbrio, o homem.
Que sorrisos forjava para te enaltecer.
Na verdade sou louco, sou lobo, sou lixo.
Cujo amor e alegria vieste esquecer.

Terrível é o cálice que meus braços sangra.
Manchando de sangue o leito, o muro.
E eu ébrio encostado na cruz que carrego,
derramo-me em lágrimas, vermelho-escuro.

O vinho na garrafa parece dançar,
ao som violento do meu coração.
Sinuoso é o dedo que nas cordas toca,
a última nota de uma canção.

Gostaria de rever as flores que um dia,
brincavam comigo, riscado o papel.
Ver o giras/Sol e o lírio da Lua,
que em comunhão, rutilam o céu.

Oh!Deus, por que não me dá o descanso?
Mandai de uma vez os teus Servos Azuis.
Leva minh'alma à alegria divina,
e doa o meu corpo aos urubus.

(25/11/1994)


SIMBOLISMO ROMÂNTICO

Por Deus, em mais ninguém vi repetida;
A perfeição em ti contida.
Chego a pensar em algo onírico,
impossível, místico.

De teus olhos, lume imponderável.
Que deslizas sobre um corpo angelical.
Numa auréola imortal de formosuras,
contemplando matiz etereal.

No dardejar dos teus cândidos lábios,
cotidi/Ana beleza se deixa ficar.
Minh'alma voltada para este amor divino,
quebra e rompe todo frouxo pensar.

Aos ombros, rutilosos fios se deixam cair.
De luz ampla e sublime que ao claustro perfura.
Bem vê e bem entende quem te exalta.
Tornando-a um marco da Deusa Natura.

De na vida gozar dos teus amores.
Partirei desta sem qualquer rancor.
Se vivi foi por ti, por estas flores.
Que em lis de ternura lhe banhou.

Não derrames por mim nenhuma lágrima,
que em pálpebra ebúrnea venha surgir.
Só te peço porém, que guarde em lembrança:
A fidelidade e o amor que dediquei a ti.

(08/10/94)